Lory Finocchiaro

Pela memória de Lory Finocchiaro

A 13 anos atrás, conhecia Lori F., ela era uma roqueira em Porto Alegre. Naquele tempo, como ainda hoje, eu costumava tirar fotos de shows. Trabalhamos juntas durante 2 anos e depois ela se foi. Ao conhecê-la em 1991 não fazia idéia que seriam os dois últimos anos de sua vida. Tive então a oportunidade de fotografá-la neste período entre 1991 e 1993 e colocar meu trabalho a disposição da consciência de sua finitude. A magnitude dessas imagens está na perpetuação da imagem dela em nossa memória. O meu desafio: a baixa luminosidade e o final da vida dela.

Fernanda Chemale

Um anjo torto veio nos dizer –

“Seja lá o que faça

seja lá o que for

a regra é sempre a mesma

haverá felicidade e dor.”

Esse anjo é a Lory, ela é assim.

Canta macio, sem voz, quase rouca. Com uma sensualidade natural, ela pulsa toda através de uma aparente fragilidade e da linha pulsante do seu baixo. A Lory possuía um lindo baixo Ibñes e foi roubado, alías, como tudo o que a Lory teve e se deixou roubar. Elá é uma boba, uma linda boba. Como ela mesma diz numa das letras de suas músicas –

“Eu é que sou louca

e me confundo toda.

Nessa eterna teia

Teço desenhos sobre um futuro melhor.”

Ela respira e nada perde mesmo assim. Lembro dos desenhos do Rick Bols, seu ex-companheiro e pai do seu filho Ricardinho. Fui ver os ensaios da banda na casa do Léo Ferlauto e não pude dixar de me emocionar. A Lory tocando, cantando puro rock, a sua vida, sua experiência, suas cicatrizes. Fazer esse trabalho é um pouco complicado para ela. Muito por fazer; releases, fotos, arranjos, ensaios, etc… Mas tudo bem, a gente faz, e faz com alma. Tem momentos que ela me lembra Marianne Faithful.

A Lory diz assim –

“Não precios de mais nada

para me convencer

que isso aqui

não passa de ilusão.

E esses prazeres me torturam até o fim,”

Sem mais milongas, a Lory é uma explosão de poesia e rock do mais alto teor de revelação e verdade.

“Cicatriz fica no corpo e é eterna feito tatuagem.”

Bebeto Alves para o show “Vício” de Lory Finocchiaro no Porto de Elis, 1988.

“A Lori, foi a única roqueira, até hoje. Existe mulher que toca em banda, que diz que toca, até hoje, não existiu nenhuma igual à ela.”
Egisto dal Santo,  2003

Sobre as fotos de Lory F., clicadas por Fernanda Chemale e pintadas por Deborah Finocchiaro:

Conheci Fernanda Chemale através de Lori. Me tranquilizava saber que, ao lado de minha irmã mais velha, havia uma amiga e uma profissional talentosa, comprometida, dedicada, ousada e focada no registro da construção do que viria a ser a “Lory F.Band”.

Segue aqui um breve histórico:

Lory F. é o nome artístico.

Lorice Maria Finocchiaro é o nome registrado em cartório, em sua cidade natal, Porto Alegre. Lori era o apelido familiar.

Libriana do dia 24 de setembro de 1958, Lori desenvolveu a música e as artes gráficas em sua caminhada. Compositora e baixista, foi visionária, audaciosa, corajosa, pioneira e amorosa. Faleceu aos 34 anos, por decorrências da AIDS, deixando um legado de música, poesia e arte.

Lori estava em estúdio, gravando e produzindo seu primeiro e único CD, o “Lory F. Band”, quando faleceu.

Para honrar seu nome e realizar seu sonho, decidi procurar o estúdio onde ela havia gravado  seu álbum, para viabilizar a finalização do projeto dela. Realizei a mixagem e a masterização do CD. Consegui ainda um selo dedicado ao rock nacional independente, “Cogumelo”, que distribuiu o álbum financiado pelo edital conquistado por Deborah Finocchiaro e Fernanda Chemale, nos idos e coloridos anos 1990.

Somos quatro irmãos na família Finocchiaro. Eu sou a do meio. Deborah, é a caçula, porém, é quem segura e une as pontas da família há um bom tempo.

Lori para mim foi um farol. Foi a primogênita. Tinha quatro anos a mais do que eu e, por isso, foi minha guia, meu norte, minha estrela da sorte.

Voltemos às fotos feitas pela Fernanda e pintadas pela Deborah. O olho “nu” às vezes não registra a beleza das expressões. E Fernanda apontou sua câmara para melhor captar o que não conseguimos enxergar no nosso campo de visão.

À época, essas imagens me comoveram profundamente. Era a (re)descoberta de uma nova artista. Sem as fotos de Fernanda, não teria conhecido aquele olhar arrebatador da minha irmã.

Agora, essas fotos ressurgem pintadas por minha irmã caçula. Com as mãos da Deborah Finocchiaro, as imagens ganham um significado a mais: parecem quadros de uma mulher que só existiu na ficção. Só que não. Essa mulher existiu, resistiu e hoje, as cores dão vida e traduzem a força de Lory F, essa artista inesquecivel.

Que bela parceria. Eternamente obrigada por sua lente precisa e quente!

Laura Finocchiaro

Exposição
Lory F. – Você vai ser obrigado a me escutar

@loryfband

linktr.ee/loryfinocchiaro

Lory F Band

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